O cinema como espaço de ativismo mnemónico: uma análise da produção cinematográfica com financiamento público em Portugal

Authors

DOI:

https://doi.org/10.15847/obsOBS18320242463

Abstract

Resumo:

O ativismo mnemónico pode ser compreendido como um tipo de ativismo que visa promover maior diversidade de histórias na esfera pública, ao assumir que reflexões estratégicas sobre o passado e a memória são formas cruciais de transformar a sociedade. Essas reflexões podem acontecer nos mais diversos contextos, como manifestações nas ruas ou através dos meios de comunicação, a partir de histórias por muito tempo silenciadas, de pessoas e grupos sociais discriminados. Neste artigo, refletimos sobre como o cinema pode constituir um espaço de ativismo mnemónico ao representar narrativas de alteridade e lançar luz sobre questões sociais de grande importância, como as experiências migratórias que atualmente têm assumido uma posição de destaque nas produções audiovisuais. Para isso, realizamos uma análise exploratória da produção cinematográfica com financiamento público em Portugal, de 2018 a 2022, a fim de analisar suas principais temáticas. Foram recolhidas todas as sinopses de filmes e outras produções audiovisuais (359) publicadas neste período nos catálogos do Instituto do Cinema e Audiovisual (ICA) e disponíveis online. Esse material textual foi analisado com auxílio do software Iramuteq. A análise indicou a ausência de termos como “racismo” ou “discriminação social” nas sinopses, mesmo em produções que abordavam essas questões ao retratarem experiências migratórias. Dentre os principais temas, destacam-se a (i) produção artística e artes em geral, (ii) vida quotidiana e relações interpessoais (e.g., família, amizade, amor) além da (iii) memória histórica e conflitos. Explorámos também, com mais detalhe, as curtas-metragens produzidas nesse período (120), o que permitiu a identificação de narrativas contra-hegemónicas, reforçando o papel que o cinema pode desempenhar no combate às amnésias societais.

Palavras-chave: Cinema; Ativismo mnemónico; Migrações; Memória social

Abstract:

Memory activism can be understood as a type of activism that aims to promote a greater diversity of stories in the public sphere, assuming that strategic reflections on the past and memory are crucial ways of transforming society. These reflections can take place in the most diverse contexts, such as protests in the streets or through the media, based on the long-silenced stories of people and social groups who have been discriminated against. In this article, we reflect on how cinema can constitute a space for memory activism by representing narratives of otherness and shedding light on social issues of great importance, such as migratory experiences, which have currently taken centre stage in audiovisual productions. To do this, we carried out an exploratory analysis of publicly funded film production in Portugal from 2018 to 2022 in order to analyse its main themes. All the synopses of films and other audiovisual productions (359) published during this period in the catalogues of the Instituto do Cinema e Audiovisual (ICA) and available online were collected. This textual material was analysed using Iramuteq software. The analysis indicated the absence of terms such as "racism" or "social discrimination" in the synopses, even in productions that addressed these issues when portraying migratory experiences. Among the main themes were (i) artistic production and the arts in general, (ii) daily life and interpersonal relationships (e.g. family, friendship, love) and (iii) historical memory and conflicts. We also explored in more detail the short films produced during this period (120), which allowed us to identify counter-hegemonic narratives, reinforcing the role that cinema can play in combating societal amnesias.

Keywords: Cinema; Memory activism; Migrations; Social Memory

Author Biographies

Luiza Lins, Universidade do Minho

Luiza Lins - Investigadora de pós-doutoramento no Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade (CECS) da Universidade do Minho, onde integra a equipa do projeto "Migrações, media e ativismos em língua portuguesa: descolonizando mediascapes e imaginando futuros alternativos" (MigraMediaActs, FCT, 2022-2025). . É doutora em Psicologia Social pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB)/ Brasil. Realizou estágio doutoral na Universidad Complutense de Madrid (UCM)/Espanha, onde desenvolveu actividades de investigação junto ao Departamento de Antropologia Social e Psicologia Social. Tem desenvolvido investigações sobre relações intergrupais, representações sociais, memória social, interseccionalidades, discriminação e identidades sociais. ORCID: https://orcid.org/0000-0002-6131-9264. Correio eletrónico: luizaalins@gmail.com

Isabel Macedo, Universidade do Minho

Isabel Macedo - Investigadora Auxiliar no Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade (CECS) da Universidade do Minho. Tem um doutoramento em Estudos Culturais, licenciatura, e um mestrado em Ciências da Educação. A sua investigação atual envolve criticamente a comunicação intercultural e as perspectivas decoloniais para explorar os desafios das migrações contemporâneas e as representações veiculadas pelo cinema. É Co-PI do projeto "Migrações, media e activismos em língua portuguesa: descolonizando mediascapes e imaginando futuros alternativos" (MediaMigraActs, FCT, 2022-2026). ORCID: https://orcid.org/0000-0003-4107-3997. Correio eletrónico: isabel.macedo@ics.uminho.pt

Rosa Cabecinhas, Universidade do Minho

Doutorada em Ciências da Comunicação e professora no Departamento de Ciências da Comunicação da Universidade do Minho. Coordenou vários projetos de investigação apoiados por fundos nacionais e internacionais. Atualmente é PI do projeto "Migrações, media e ativismos em língua portuguesa: descolonizando paisagens mediáticas e imaginando futuros alternativos" (MediaMigraActs, FCT, 2022-2025) e é PI da equipa local do projeto CONCILIARE - Confidently Changing Colonial Heritage (Horizon Europe). Os seus principais interesses de investigação combinam a comunicação intercultural, diversidade, memória social, identidades sociais e discriminação social.

Julia Alves Brasil, Universidade do Minho

Julia Alves Brasil - Doutora em Estudos Culturais (Universidade do Minho, Portugal), e mestre e bacharel em Psicologia (Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), Brasil). Atua como Assistente Temporária de Ensino e Investigação (ATER) na Universidade de Lille/França e investigadora colaboradora no Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade (CECS)/Universidade do Minho, onde integra a equipa do projeto "Migrações, media e ativismos em língua portuguesa: descolonizando mediascapes e imaginando futuros alternativos" (MigraMediaActs, FCT, 2022-2025).  Possui experiência nas áreas de Psicologia Social e Estudos Culturais, com ênfase em processos identitários, relações intergrupais e práticas socioculturais.  Seus interesses de pesquisa incluem: migração, comunicação intercultural, grupos minoritários, preconceito, discriminação, desigualdade social, representações sociais, memória social, América Latina e pensamento decolonial.

Alberto Sá, Universidade do Minho

Alberto Teixeira de Sá - Professor Auxiliar do Instituto de Ciências Sociais da Universidade do Minho, no Departamento de Ciências da Comunicação. É investigador do CECS (Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade) onde tem desenvolvido trabalhos de investigação sobre os estudos da memória social e coletiva e das representações sociais, na mediação digital e tecnológica da memória (da qual realizou Tese de Doutoramento sobre Arquivos e Preservação Digital da Memória). Os seus interesses de investigação também se estendem à História Urbana Medieval (da qual fez provas de mestrado). É também membro da equipa de investigação do projeto científico nacional "Migrações, media e ativismos em língua portuguesa: descolonizando mediascapes e imaginando futuros alternativos" (MigraMediaActs, FCT, 2022-2025). 

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Published

2024-09-28

How to Cite

Lins, L., Macedo, I., Cabecinhas, R., Alves Brasil, J., & Sá, A. (2024). O cinema como espaço de ativismo mnemónico: uma análise da produção cinematográfica com financiamento público em Portugal . Observatorio (OBS*), 18(3). https://doi.org/10.15847/obsOBS18320242463

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