Dinâmicas sociais no Facebook: Análise de comentários em conteúdos jornalísticos sobre a suposta tentativa de ataque terrorista à FCUL
DOI:
https://doi.org/10.15847/obsOBS18120242348Abstract
Enquadrado nos média noticiosos como um crime de terrorismo sem paralelo e inédito em Portugal, um jovem português foi detido em 2022, na posse de catanas, bestas, punhais e botijas de gás e de um plano escrito com os detalhes do suposto atentado à Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa. Este artigo procura mapear as dinâmicas sociais que ocorreram no primeiro mês da circulação de conteúdos jornalísticos sobre este evento na plataforma social Facebook, uma das plataformas digitais mais utilizadas em Portugal no que diz respeito ao consumo e interação jornalística. Parte-se do pressuposto que os ambientes digitais desempenham um papel central e omnipresente nas dinâmicas sociais dos indivíduos, cuja utilização parte do diálogo com os contextos pessoais e individuais como sociais. Focando-se nos espaços participativos da imprensa de referência em Portugal no Facebook, este estudo exploratório é desenvolvido a partir do método de análise de conteúdo qualitativa aos comentários (N = 1969) direcionados aos textos jornalísticos (N = 28) do Diário de Notícias, Público, Observador e Jornal de Notícias, desde 10 de fevereiro a 11 de março de 2022. Os resultados mostram que as intervenções de utilizadores não se distribuem de forma homogénea e que uma manifestação pode ser utilizada com várias finalidades, sendo o ato de comentar aleatoriamente e os comportamentos de incivilidade as dinâmicas sociais mais frequentes. O ângulo jornalístico em torno do crime da prática de terrorismo surge como o tema central nos discursos dos utilizadores. Ainda assim, o reduzido foco no caráter terrorista do ato ou do plano, face a outros casos estudados internacionalmente, sugere que o caso português não fez uso de uma construção identitária estereotipada da personagem central que reforçasse a suspeita popular e/ou jurídica da natureza do ato.