Podcasting e pandemia. Da portabilidade e mobilidade ao confinamento e universos pessoais interconectados

Abstract

A pandemia da Covid-19 trouxe consigo um conjunto de impactos e consequências, alguns dos quais de tipologia e dimensão ainda desconhecidas. O conjunto de práticas comunicacionais e de consumo de media não é excepção, tendo-se observado durante o confinamento de Março / Abril de 2020 uma alteração significativa dos padrões habitualmente atribuídos à sociedade portuguesa. O podcasting, enquanto formato intrinsecamente relacionado com aspectos como a portabilidade e a facilidade de acesso e consumo, enfrenta neste contexto um processo de reenquadramento comunicacional muito significativo, na medida em que as dimensões relevantes do seu consumo estão fortemente associadas aos paradigmas da mobilidade. Essa é, no entanto, apenas uma dimensão relativa da mudança que o formato atravessa, sendo simultânea ao crescente interesse dos modelos plataformizados e fechados de distribuição de conteúdos e à crescente relevância da dimensão social do áudio e, em particular, da voz enquanto ferramenta de aproximação ao outro. Neste artigo é explorada a materialização da mudança observada no formato em virtude da pandemia. Partindo da observação das dinâmicas de consumo em Portugal, procura-se reflectir sobre a forma como o formato é pensado, desenvolvido e operacionalizado pela esfera da produção. Para tal são observadas as dinâmicas de consumo de podcasts em Portugal, recorrendo a uma amostra representativa da população, e os padrões de consumo por género e por fonte em período pré (Dezembro de 2018) e pós-pandemia (Dezembro de 2020). A análise realizada permite constatar que o podcasting terá adquirido, do ponto de vista do consumo, uma configuração orgânica coincidente com uma a comunicabilidade confinada. Do ponto de vista da produção, a pandemia não trava um crescimento exponencial da oferta, em termos de diversidade e quantidade, que redunda numa maior competitividade dos formatos existentes.